A magia da culinária amazônica contada por um caboclo

A magia da culinária amazônica contada por um caboclo

A magia da culinária amazônica contada por um caboclo

Há quem compare a cozinha a um local de magia. Nela, bruxos e alquimistas fazem seus encantos, combinam seus talentos e transformam ingredientes em arte, como em alguns passes de mágica. Talvez toda essa aura mística tenha sido a responsável pela atração fulminante de um caboclo amazonense pela gastronomia e por tudo que ela é capaz de transformar.

No sábado, dia 1º de setembro, o público do Festival de Cultura e Gastronomia Tiradentes teve a oportunidade de viajar, sem sair do lugar, pela região Norte do Brasil, com o celebrado chef Ofir Oliveira. Mais do que uma paixão, a gastronomia ganhou um enorme espaço na vida deste descendente de índio e português e, hoje, é a sua missão.

Rodeado pelas crenças e histórias que habitam a Amazônia, chef Ofir descobriu a cozinha por influência da mãe e hoje a utiliza para espalhar sabores e passar uma mensagem de preservação da natureza. “Como cozinheiro que sou, gostaria que os meus filhos e netos, e os seus também, venham a conhecer a floresta em sua plenitude. Essa é a minha luta”, conta o chef.

Depois de ter participado da edição do Festival Fartura Belém, no mês de janeiro de 2018, Ofir desembarcou em Tiradentes para contar histórias e mostrar sua cozinha de ingredientes para o público. No cardápio, servido na Pousada Escola Senac, peixe à capitoa: um filhote assado acompanhado do molho de Arubé, um acompanhamento criado antes mesmo do descobrimento do Brasil e que tem como base o tucupi.

 

Cozinha e cultura

Mas se os ingredientes e molhos podem parecer inicialmente desconhecidos ou inusitados para quem não vive a cultura amazônica, o chef afirma que eles estão mais próximos da cozinha mineira do que se imagina. “As nossas culinárias se parecem na sua história. Elas são antagônicas em sua confecção, mas têm a mesma concepção histórica”, explica Ofir.

A cultura, aliás, é outra bandeira defendida pelo chef, que nos anos 1980 e 1990 conquistou a França com o seu talento. “Em um mundo tão globalizado e onde tudo é igual, o que cria as diferenças é a cultura. É a raiz do povo. Isso não pode ser perdido”.

Para ele, a culinária amazônica e a mineira, tão ricas em ingredientes e sabores, representam muito mais do que se imagina para a cultura brasileira. “São gastronomias de tradição e é dever de quem cozinha trabalhar para unir essas pontas. São duas regiões riquíssimas”, afirma.

Para provar que as duas cozinhas se completam, o chef sugeriu, em uma próxima ida a um dos Festivais Fartura, fazer uma galinha caipira ao molho de tucupi. “Ou então, que tal jogarmos este molho Arubé naquele porco que está assando na Praça da Rodoviária?”, brincou o cozinheiro, referindo-se a um dos pratos servidos no Festival.